sábado, 29 de setembro de 2012

Dúvidas - Day


 Por que precisamos parar 
para pensar em coisas que nem deveriam 
povoar nossos pensamentos?
 Por que olho as pessoas 
e nem vejo uma lágrima sequer?
 Por que ninguém pode mais amar outro alguém?
 Há quem fale mal das religiões, da política, 
do pobre, das regras sociais, do sistema! 
Há quem mate índios, crianças, velhos, e animais irracionais. 
Há até quem nos enterre ainda vivos 
em cemitérios ideológicos, 
refazendo-nos nauseabundos e fracos 
ante argumentos tais que são capazes de derrubar
 até nosso mais secreto defensor. 
Tantos séculos após e eu ainda me pergunto 
por que a maldade existe no homem? 
Certas perguntas sem respostas, já que existem, 
haverão de ser transformadas em forcas, um dia.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Doctors Mortis - Day



Um dia irei revirar aquela antiga gaveta, 
encontrarei Freud e Jung a me esperar. 
Direi a eles quantas estrelas não sonhei. 
Vou desfalecer sobre seus corpos gritando help doctors! 
Depois cuspir sobre o tapete meu sangue embotado, 
gritar para borboletas virem buscar-me, 
ah, então, voando em tapetes mágicos 
conhecerei meu esposo nas Arábias do outro mundo...
 Espera, comecei pelo fim... Doctors, é o seguinte:

Já me matei faz tempo... Paulo Leminsk



já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma 





Paulo Leminski

Psico/hell- Day


 Tu estavas sentado no meio da praça que era cinza e sem árvores,
 tua cabeça era bonita, contudo, teus olhos sem brilho
era para baixo o teu olhar. 
Não tive dúvidas, eras tu morto, longe de mim para sempre.
 Amor maldito que nada deu nem recebeu!
 Noites aflitas de tantos gozos, era a despedida! 

Em outra parte minha casa era pura ruína,
 dois pavimentos de tijolos podres,
 na cozinha assava-se um bicho e panquecas,
 tudo era feio, nada existia com cores. 

Tentei beijar-te com a boca desgastada, 
não sentia o odor de hortelã, mas de morte e fantasma, 
 - não estávamos mais aqui. 

Abri os olhos, dormira no sofá, 
corpo dolorido, quase chorei de dor. 
Acordada, aliviada estava, entretanto, dormindo, 
ainda que morta, ao menos eu te via e te amava.

Último desejo - Calisto Seraphan


 Meu quarto se tornou uma masmorra, 
nele sou refém de minha própria mente deturpada 
pela perda, e obscurecida pelo prospecto da solidão eterna...
De nada adianta o consolo e a presença das damas 

que bailam pelas frestas da vida, 
nem dos heroicos cavaleiros a enfrentarem dragões 
e moinhos de vento...
A solidão provinda da alma é mais forte

 que qualquer criatura, e mais maligna 
que qualquer demônio,
nem o mais nobre dentre os nobres 
é capaz de encarar de frente essa fera...
O sofrimento dessa madrugada infindável 
pode ser comparado à ânsia do prisioneiro 
frente ao corredor da morte, sem último desejo,
 sem ultima refeição, apenas o corredor 
e a certeza de não mais retornar...
Nas trevas que me encontro agora pergunto 
ao seu retrato na cabeceira de minha cama, 
onde estarás agora?
 No céu ao lado dos anjos que tanto repudiava? 
Ou no inferno, o eterno lar dos suicidas?
Sem respostas leio mais uma vez 
a traiçoeira carta de despedida,
 sua última declaração de amor, 
seu último hino de arrependimentos...
Um dia iremos nos reencontrar, um dia...
Por enquanto tento cumprir seu último desejo...


  Calisto Seraphan

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Enganos - Day

 Era princesa no começo 
e gostosa era a maçã vermelha ácida doce.
 Veio o primeiro c chupou-lhe a inocência; 
o segundo levou as ilusões;
 o terceiro injetou-lhe um filho no ventre. 
Este filho cresceu 
e tornou-se o vilão da estória. 
E assim a princesa morreu, 
pelas mãos cruéis do último destino.

Lúdico e infernal - Day


 Um homem pode viver na mentira, 
enganando-se com porra e filosofia; 
pode colecionar vaginas, almas em desepero, 
pode falsificar assinatura do espírito, 
enganar a Deus, chupar os chifres de Satã.
Ele pode cantar vitória sobre os outros,
 ignorar sua solidão, deitar todas as noites 
e gargalhar em pesadelos repetidos.
 Ele pode até ferir com espada faladora,
 magoar  deusas e ninfas, cruel com dedos brilhantes.
 Todavia, este homem não escapará de envelhecer só, 
e a morte o beijará, finalmente.

Espera - Day



 Era um maremoto, ou coisa parecida,
cortinas voando em tons azuis, 
o fato é que a luz que entrava 
junto ao vento e era insólita, 
não se sabia de onde vinha. 
Olhando o pesado relógio na parede craquelada
 notei que lá não estava teu retrato, 
a minha lembrança e tudo que ficou de ti
 para que eu não morresse entre os jardins 
e a piscina sem água, um abismo de ladrilhos
 que me chamou por anos: joga-te!
Então a tempestade levou pelas vidraças
 as nossas fotos. 
Olhando o punhal de madrepérola, 
resoluta desafiei a covardia minha.
 Mas, assim como o anjo impediu
 o desatinado Abraão,
 eu também interrompida fui. 
Quando olhei de novo a moldura de nosso retrato,
 ela transformara-se em ti homem outra vez.
Disseste com embargada voz de saudade:
 _ Vim buscá-la, querida. Ficaremos juntos eternamente, io e te.

Homem Pesadelo - Day


 Lembrei de minha roupa aquela que tirei suja de lama e solidão. 
Teu corpo fedia como flores cemitério, tua boca ardia pelas palavras desconexas, estavas drogado num país chuvoso.
Na linha do trem o anjo negro te levou. Ao longe, meu olhar cantou enquanto o vestido de seda rasgado mostrava meus ombros mordidos pelos corvos que saíam do teu ventre e espumavam tua garganta. Overdose de amônia e cicuta, 
foste embora acometido de cegueira. Ainda pude vê-lo
 a desaparecer entre as negras nuvens daquela cidade estranha
onde deixei para trás minhas botas, o casaco de couro 
e os preservativos da miséria. Agora a morte te engravida entre pomares desiludidos. Tua fruta é azeda e seca 
como merda de ovelha. 
Vai-te, criatura triste, voa sem par, pois teu destino já estava guardado pelo secular livro das mentiras.

A sorte dos amantes - Day


 Teu crédito acabou, vim buscar-te miserável, andemos! 
Tua vida pregressa aqui está, na palma de minha mão, 
teus afazeres se findam, teu lugar está já aquecido
 entre travesseiros de madeira, 
pedras e plumas de gavião. 
Não! Não necessitas bagagem, tua viagem não é longa, 
pois tão perto estás do humo! 
Olhai, devasso entre as mulheres, os anjos que afligiste, 
e de tua zombaria poucas lembrarão. 
Não foste amado por mulher alguma; tua prostituição, 
o odor chegou às cavernas de meu domínio. 
Vê-lo morto tua mãe dirá,
ó filho ingrato que enlouqueceste! 
O que de errado possivelmente fiz, ó morte calada! 
Porque nada àquela direi. Na confusão dos vermes que lá habitam, 
de longe, nenhuma de tuas amantes saberá quem é você 
em meio à turba de horrores. 
Larga agora teus livros, teu dinheiro e andemos:
 A noite está por findar e lá é escura toda festa dos amores.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Tempo me leva - Day



Seria presumidamente pedir demais 

de ti um beijo ainda que fugaz, 

mesmo sem tua língua a passear 

no céu de minha boca florida, 

posso perguntar, estranho que te tornaste,

poderia eu argumentar debaixo

 do teu corpo morto

 o que deveria eu fazer, tão só sem lucidez

que teu amor levou, oh egoísta, 

falacioso e o mais impuro dos homens! 

Logo a ti fui dar meu nervo vivo,

 as entranhas de mulher, para agora, 

depois do desamanhecer 

tu me traíres com a primeira puta que te chama. 

Em chamas todo meu corpo arde, como dói 

a dor do amor que não responde! 

Quão grande é o sofrimento da solitária

que tu dizes louca e desprezas

como faz o homem do bar com os últimos bebedores. 

Nunca mais fiquei em transe alcoólico

 só para te agradar, 

enveredar meus beijos pelas tuas curvas

 repletas de pêlos e creme de barbear.

 Quisera, num ímpeto de agonia, 

beber até cair como um prédio condenado,

 sim, talvez, quem sabe, o meu amor voltasse a mim,

 implorando aos céus do Universo, 

porque voando o tempo tão rápido

quem dera tê-lo outra vez, antes de morrer.

Para Ulisses

Primavera - Augusto dos Anjos



  
 A meu irmão Odilon dos Anjos
 
Primavera gentil dos meus amores,
- Arca cerúlea de ilusões etéreas,
Chova-te o Céu cintilações sidéreas
E a terra chova no teu seio flores!
 
Esplende, Primavera, os teus fulgores,
Na auréola azul dos dias teus risonhos,
Tu que sorveste o fel das minhas dores
E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!


Cedo virá, porém, o triste outono,

Os dias voltarão a ser tristonhos
E tu hás de dormir o eterno sono,


Num sepulcro de rosas e de flores,

Arca sagrada de cerúleos sonhos,

Primavera gentil dos meus amores!

A Louca - Augusto dos Anjos




A Dias Paredes
 
Quando ela passa: - a veste desgrenhada,
O cabelo revolto em desalinho,
No seu olhar feroz eu adivinho
O mistério da dor que a traz penada.

Moça, tão moça e já desventurada;
Da desdita ferida pelo espinho,
Vai morta em vida assim pelo caminho,
No sudário de mágoa sepultada.

Eu sei a sua história. - Em seu passado
Houve um drama d’amor misterioso
- O segredo d’um peito torturado -

E hoje, para guardar a mágoa oculta,
Canta, soluça - coração saudoso,
Chora, gargalha, a desgraçada estulta.

A dança da psiquê - Augusto dos Anjos



 
A dança dos encéfalos acesos
Começa. A carne é fogo. A alma arde. A espaços
As cabeças, as mãos, os pés e os braços
Tombara, cedendo à ação de ignotos pesos!


É então que a vaga dos instintos presos
— Mãe de esterilidades e cansaços —
Atira os pensamentos mais devassos
Contra os ossos cranianos indefesos.


Subitamente a cerebral coréa
Pára. O cosmos sintético da Idéa
Surge. Emoções extraordinárias sinto...


Arranco do meu crânio as nebulosas.
E acho um feixe de forças prodigiosas
Sustentando dois monstros: a alma e o instinto!

Tarik e a Fada - Day



Como conceber teu meigo e perseguido olhar, meu amor?
Como ir lá fora e assassinar os ratos que te mordem, 
aqueles repulsivos cadáveres que sonham com teu corpo morto
 e tuas palavras sem vida!
Sim, eu sei como deles te livrar, tão fácil o inceticida do porrete usar,
Fazê-los sobre teus escritos vomitar, esganar seus poemas mentirosos
E enforcá-los na primeira esquina!
Por você, meu nobre e secular amor, vou à guerra e trago para ti as cabeças miseráveis 
daqueles que te magoaram ao pôr-do-sol, e farei deles carnificina e comida para os porcos.
Acalma-te, meu amor sangrento, que o dia, quando raiar, tua vampira escudeira estará a gargalhar,
mostrando-te quão cruel um anjo pode ser, enterrando as unhas vermelhas nas jugulares malditas
dos que te feriram...
Dorme agora em meu colo, e não sonha mais nada, apenas ouve nossas almas 
cantando a vitória junto aos querubins da eternidade...




O interior dos homens - Day

Tão irônico quanto perigoso é falar o que manda o coração,
Inesperadamente passo a ser o acusador, o vilão.
O mundo está deserto e, claro, já não resta quente um amor que seja.
Basta olhar para os lados, para o vizinho, um amigo virtual.
Tudo se desmorona e, infelizmente, os maus vão ganhando terreno infernal.
De alguma forma eles são seduzidos por forças contrárias ao Bem, à sinceridade entre as relações...
Mas um dia a casa cairá, e sobre tais pessoas, apenas escombros, e somente esses as ouvirão em seus lamentos finais,
somente os escombros suas gargantas
                                       lamberão! 








domingo, 23 de setembro de 2012

Um Conto sem Hoffmann


Autor - Thiers Rimbaud



A fome enevoava resquícios
verbo acrílico sem parâmetro
seguindo rastros
e Hoffmann?
tempos passaram e não eram verbos
eram tempos de algum pretérito
raiva escondida na esquina
apunhalava
roubava-me pedaços
de pão
contida como
paralelepípedo ensangüentado
chovia fino
os pensamentos dançavam…
teria enlouquecido?
debaixo do temporal
pensei nos cachos de mademoiselle
a permear nuca branca e saliente
abri a boca, lambi
precisava arder em sangue
precisava
queimar-me na lama
desta aventura
leva me, leva-me…
easy rider.

Thiers R> é uma promessa na literatura brasileira.

Cartas de Amor de Rua

Autor - Paulo Castro



Antes dela ter uma ideologia, a gente a fodia em troca de pinga e histórias em quadrinhos. Eu sempre acrescentava algo mais, tinha pena do menino, presenteava o pequeno com roupas, mas sempre estava um tanto atrasado em seu crescimento.
Bêbada, ela me chamava de saudosista.
A gente ria muito e depois íamos para a praça ou algum quarto vago e barato por ali.
Depois ela foi colocada contra a parede pelo Conselho Tutelar, algo assim, arrumou um emprego, conversava com outras moças e ainda bebia, mas falava de seus direitos e segurava um pouco a onda.
Eu a prefiro assim.
Parece outra mulher, óculos, os cabelos curtos estão lisos e brilhantes, ela me conta das notícias de jornal, frequenta passeatas e o menino já é um rapaz que sonha com a faculdade de Sociologia.
Somos bons amigos e atualmente é ela que me aconselha.
Nunca deixará de ser uma dona de boa alma.
Mas eu estou bem como estou.
Tomando coragem pra lhe entregar todas as cartas de amor que não entreguei durante esses anos.
Mas ela vai me achar tolo.
É uma besteira arrastada e nada mais.
Paulo Castro é escritor e  médico psiquiatra, e já não dá para saber onde começa um e termina outro.

A reunião


Há muito, muito tempo atrás, um homem que era conhecido por O Homem que Sabia, reuniu algumas pessoas e as levou a uma praça, onde muita gente se aglomerara, a fim de ouvi-lo. Ele levou consigo uns homens que eram, um médico, o outro um jardineiro, um padeiro, um carpinteiro, e ainda um escriba muito erudito.

Depois de acomodados em cadeiras de madeira, feitas pelo carpinteiro, o Homem que Sabia, pigarreou discretamente e começou a falar. O silêncio era absoluto.

“Amigos, eu os reuni hoje, para explanar sobre algumas questões que têm me tirado o sono. Certamente eu já cheguei a uma conclusão, contudo, tenho observado no povoado que vocês andam confusos com as questões trabalhistas. Sei que precisam ganhar o sustento para suas famílias. Entretanto, vêm-me aos ouvidos muitas reclamações no que tange às suas habilidades…”

A esta altura, uns homens negros e fortes chegaram com alguns utensílios. Eram materiais e ferramentas de acordo com as profissões dos homens.

Depois de tudo arrumado e organizado, o homem sábio mandou que cada profissional se apossasse das ferramentas aleatoriamente. Desta forma, o médico ficou com os apetrechos do padeiro, o padeiro com os do carpinteiro, este com os do escritor. E, finalmente, o escritor, apossou-se das ferramentas do jardineiro.

Então, o Homem que Sabia, cortesmente, pediu a cada um dos participantes que procurassem desenvolver alguma coisa com as ferramentas que dispunham.

Muitas horas depois, cansados, desistiram de suas obras. E todos admitiram que não possuíam habilidades para outras artes ou ofícios, mas que eram execpcionais naquilo que faziam.

O velho sábio olhou em volta. Chamou apenas dois dos concorrentes, objetivando prestar exemplo ao povoado. Se aproximaram dele, o carpinteiro e o escritor.

Perguntou ao primeiro:

_ O senhor, como excelente carpinteiro, como se sentiu ao ter que elaborar um belo texto, um escrito artístico, que só pode sair de um coração deveras criador?

O homem, ressentido, retrucou:

_ Meu senhor, sou capaz de construir qualquer móvel, qualquer apetrecho, e até crio formas e detalhes a cada invento, contudo, nenhuma palavra escrevi que pudesse ser chamada literatura.

O velho desviou o olhar do carpinteiro e se dirigiu ao escritor:

_ E o nobre escritor, também execelente em seus atributos, como se lhe deu com as artes da jardinagem?

_ Oh, meu nobre senhor da pura sabedoria…- redarguiu o escriba – Minha tarefa, aparentemente simplória, que era apenas plantar umas mudas de flores, em nada redundou, uma vez que mal consegui discernir a terra do adubo.

O Homem que Sabia levantou-se e, olhando para o povo, decretou:

_ E assim, todos os concorrentes não conseguiram desenvolver suas tarefas de forma agradável. – respirou e continuou – Deus, dá a cada um de nós uma habilidade específica. Muitas vezes até mais de uma.

Contudo, ai daquele que despreza seus dons e avara obter o dom do outro, tirando-lhe campo de trabalho e reconhecimento. Tal homem, que age com tamanho desatino, geralmente é um fracassado. E pior, ele mancha a arte do trabalho e da própria arte Arte.

Anelo saber que, a partir de hoje, deste memorável dia, cada um de vocês procurem sua arte, seu ofício, seus dons. Porque, mais tolo que o que mau profissional, que pode crescer e aprender, é aquele que nem profissional é digno de ser chamado.
(Dedico este texto a todos que escrevem por amor e dom)
Importado do Blog da Day, meu blog literário.

sábado, 22 de setembro de 2012

Voltando...

Depois de tanto tempo, devo voltar a escrever aqui, sobre cinema e afins. Para quem não sabe, eu tenho um Blog de Literatura. Se quiser conhecer, clique aqui. Até! :)