Autor - William Hope Hodgson
Sinopse:
O livro foi publicado em 1908 e – como aliás todos os outros que
resenhei desde que comecei esta aventura – já caiu em domínio público.
Por isso, não é difícil encontrá-lo para baixar, desde que seja em
inglês, inclusive no Project Gutenberg. Curiosamente, encontrei uma
edição dele das antigas (acho que mais velho que meu avô) no Estante
Virtual, chamada A Casa sobre o Abismo.
Mais recentemente, houve uma adaptação em quadrinhos, na qual a tradução
do título ficou como A Casa do Fim do Mundo e é prefaciada por ninguém
menos que Alan Moore.
Agora, bem... se fosse para escolher uma única palavra para definir esse
livro, eu usaria... bizarro. A idéia é bizarra, a forma de contar é
bizarra, os personagens são bizarros – em especial o narrador, com suas
visões metafísicas que alcançar até o fim do universo. Mas, vejam bem:
aqui, quando digo bizarro, estou querendo dizer que Hodgson produziu
algo ímpar, diferente, surpreendente. Não à toa, Lovecraft o tinha como
uma de suas principais referências.
A história começa com dois camaradas ingleses – Tonnison e Berreggnog
(que raio de nome é esse??) – que decidem tirar um feriado na Irlanda
para pescar. Aí eles saem andando para cima e para baixo pela vila de
Kraighten, decidem acampar no meio do mato... e acabam por se deparar
com uma casa em ruínas, onde encontram um estranho manuscrito com partes
inteligíveis e páginas rasgadas.
O manuscrito foi escrito pelo antigo dono da casa, o qual conheceremos
como o Recluso, que vive (ou vivia) com a irmã solteirona Mary e Pepper,
seu cão.
Nosso amigo recluso começa o diário contando sobre como veio a morar na
casa sobre o abismo (ela é, literalmente, construída sobre o abismo,
como o recluso descobrirá após fazer um buraco no porão...) e como
coisas estranhas começaram a acontecer após ele ter um sonho/visão em
que é levado para uma vasta planície, cercada de montanhas, e povoado de
todo tipo de criatura bestial que se possa imaginar (ou não, pelo bem
de nossas sanidades).
Exatamente no centro dessa paisagem de pesadelo há uma casa, em quase
tudo idêntica a dele mesmo, cercada de criaturas que parecem ser uma
cruza entre humanos e porcos.
Após essa visão, ele tem a excelente idéia de explorar os arredores da
casa, incluindo o abismo, aonde vai se deparar com, adivinhem,
adivinhem? As criaturas humanóide-suínas.
Vamos concordar que explorar um abismo sob uma casa de mais de duzentos
anos de idade com fama de amaldiçoada, reputada ter sido construída pelo
próprio diabo não foi das melhores idéias do Recluso. Tampouco, a de
comprar a casa e ir morar nela num lugar onde não existe viv’alma, por
mais que a mesma fosse uma pechincha.
Afinal, qual era a promoção do dia? Leve a casa quase de graça e tenha
sua própria linha de demônios amaldiçoados para te assombrar?
Pesquisei um pouco sobre o livro e encontrei algumas teorias
interessantes. De forma geral, parece que a casa do Recluso estava de
alguma forma ligada a outro plano ou dimensão, através daquela charmosa
casa cercada de deuses bestiais. O que o Recluso experimenta na casa
seria, na verdade, um reflexo do que acontece nessa outra dimensão.
De alguma forma, essa idéia me faz lembrar do ciclo de mitos de Cthulhu. Talvez tenha sido saí que surgiu a idéia do Lovecraft.
A bem da verdade, ao logo de toda narração, é um pouco difícil perceber
onde está a realidade. Por tudo o que Tonnison e Berreggnog sabem, o
Recluso poderia ser apenas um louco. O tempo inteiro, você não tem
certeza se deve confiar nos sentidos e na sanidade do narrador, e isso
torna tudo ambíguo, com um horror apenas sugerido, logo após a
superfície.
E, exatamente por isso, pela forma como não sabemos exatamente o que é
real e o que não é, A Casa sobre o Abismo se torna perturbador e
verdadeiramente angustiante.
Nunca consegui explicar totalmente a sensação que tive ao final do
livro... a de saber que havia perguntas que o autor deixara sem resposta
– e não ousar pensar com muita atenção em quais poderiam ser essas
respostas.
Afinal, nunca se sabe o que pode vir rastejando para fora quando olhamos para o abismo...
Por Coruja.
..............................................................................................................
2012/05
EVA – SUPER LANÇAMENTO DA LITERATURA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA
Opinião
Gostei do livro EVA, de Jorge Desgranges, por várias razões. A princípio a leitura é agradabilíssima, com ação, romance e time.
Muito bem narrado em primeira pessoa, o autor dá vida à Eva, uma
protagonista devidamente humanizada, que carrega o leitor para seu mais
tenebroso interior sem nenhuma cerimônia, o que é fantástico.
Já no início da leitura, nos tornamos íntimos dessa anti-heroína que,
almejando ascensão econômica e status, não mede as consequências
resultantes de sua ambição, até que percebe o abismo para o qual fora
projetada. Eva, então, constatando que perdeu tudo, zera sua vida e se propõe um recomeço.
Todavia, vê-se claramente a vida imitar a arte neste romance que
sinaliza a literatura brasileira na pós-modernidade: a personagem cria
desafetos, passando a ter que conviver com seu diabo particular,
um empresário perigoso e destemido, que passa a persegui-la no decorrer
da estória, provocando impacto no leitor que surpreende-se com um mundo
invisível, porém real.
Em alguns momentos perder-se-á o fôlego, porque a vida da bela jovem
torna-se repleta de riscos, em um ritmo alucinado e caótico. Não
obstante, é uma mulher com sentimentos e muito inteligente – estudou
economia e contabilidade. Contudo, cada passo que dá, vai juntando seus
próprios pedaços, recosturando-os. Assim, vai se transformando em um ser
humano cada vez mais forte, principalmente quando o destino a põe
frente a frente com Yos, um marinheiro grego que passa a ser seu mentor.
Brilhante metáfora como o próprio nome sugere, Eva é um livro
desafiador que discute ética, lei, e o comportamento do homem, tanto o
religioso quanto o que se aparta da idéia de Deus. O autor observa tudo e
a todos de forma discreta, não cedendo jamais a nenhuma apologia, ao
contrário, permite ao leitor pensar e tirar suas próprias conclusões
frente às mudanças da sociedade humana.
Assim como a alma da protagonista, o leitor viajará, literalmente, pelo mundo, a bordo do Rhodes,
um pequeno, porém poderoso veleiro pertencente a Yos, que cruza mares e
oceanos, deleitando-nos com viagens cinematográficas. Não por acaso,
já que Desgranges é também roteirista de cinema e TV.
Abordando o submundo do mercado negro, o livro também traz
informações bombásticas, como alguns detalhes a respeito do Banco
Multinacional BCCI, instituição financeira coligada aos petrodólares e
multifacetada em transações escusas.
EVA é uma obra preciosa em muitos sentidos. Do ponto de vista
filosófico ao político, ela faz pensar. E a surpreendente protagonista
é, ao mesmo tempo, doce, sarcástica e intrépida, o que gera empatia
imediata.
Ao término da leitura, certamente, o leitor irá ponderar e refletir
sobre várias questões ligadas à ética e à moral. Todo livro que causa
esse efeito, é considerado um bom livro.
EVA é um pouco mais. Eu diria que é soberbo e necessário.
Ficha técnica:
Título: Eva
Gênero: Ficção/Literatura Brasileira
Páginas: 304
Ed. do autor – 2012
Quem adquirir o livro tem direito a uma versão digital para Ipad.
Contato com o autor: contato@jorgedesgranges.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário