
A vida é constituída de perdas. Nascemos só para iniciarmos um processo de deteriorização. Morrer é fato tão comum quanto se tentar explicar a morte. Mas este fenômeno em si traz consigo o benefício do acaso e do mistério.
Desde sempre, desde o início, nós, humanos, tentamos lidar com este aspecto obscuro e glorificado. O ato involuntário de desaparecer como fumaça no Cosmos, nas esquinas, em hospitais, enfim, nas curvas do destino.
Difícil aceitar a perda. Inútil perseguir o abismo que não tem fim.
Religiões, filosofias e crenças folclóricas amortecem a frustração universal da talvez única resposta sem pergunta. Porque na verdade, nenhum de nós haveremos de inquirir a ninguém algo tão abstrato que é o desaparecimento de um produto material. Físico. Vivo.
Sabemos, com envergonhada certeza que o alimento transforma-se em excremento e que lagartas tornam-se borboletas.
Também já dominamos a ridícula sabedoria de que o girino vira sapo.
No entanto, a mais sádica dúvida que existe para nós é sabermos por onde vai esta energia que mora - de graça - em nossa existência, se é que podemos continuar chamando-a de alma. Acontece o quê? Ela sai voando? É imortal? É?
Pessoalmente eu diria, e de forma triste, que o maior dos mistérios às vezes vem em minha vida para apenas motejar minha dor. Física e a não física. Completamente.
Eu frustro-me ao pensar sobre estas tarefas que não podemos cumprir. Esta missão de encontrarmos a resposta do que jamais quisemos perguntar.
Vivemos em eterna escarpa. Absolutamente sós. Sem sóis, sem nós.
Por mais que minhas elegias - pequenos poemas - que eu não quis escrever, muito menos pensar, incomodassem minha inteligência em Camões, Pessoa e Machado, ainda assim penso que divido com todos um certo sentimento solitário. Mesmo não tendo a genialidade dos helênicos, eu posso carpir cada momento meu, quando de fato choro por minha condição ínfima de gente que morre.
Ceifar minha garganta é comum porque conheço o sofrer e a dor sombria que me veste vez por outra. E ainda que fique nua temporariamente enquanto viva, eu desfaleço, supondo, antes de mais nada, que eu vim aqui sem nascer. Ou melhor dizendo, eu apareci e não sei como. Como também não arrisco dizer como desaparecerei.
Algumas faltas fazem diferença em nós. Sentimentos que não teremos mais. Coisas que não tocaremos. Gente que não veremos. Músicas que não tocam mais e esquecemos a letra... blogs onde não mais escreveremos.
A morte, que cresta minhas manhãs, que não me dá o benefício de ficar ao sol, esta mesma me mantém viva.
E pra que ouvir as cotovias e os acordes de Wagner, se sei que mais cedo ou mais tarde esquecerei de tudo, como um troço reciclável. Virarei papel? Nuvem... ou lembrança na cabeça de alguém?
É assim que me sinto com o desaparecimento de minhas palavras virtuais que se esconderam no Blog da Dai:).
Da mesma forma que os homens da hospedagem não sabem do meu retiro que chamei de blog, ninguém saberá ao certo o que é a morte.
Ou melhor, pequenas mortes como o meu blog, até dá pra saber.
Era apenas um blog. Um amontoado de palavras como este texto.
Mas o funeral queima em mim como fosse eu, Deus.
Onde foi parar o Blog da Dai :)?
Alguém tem uma idéia? :(